Denominada
primeiro como “luta regional baiana”, o estilo de capoeira criado pelo Mestre Bimba é o mais praticado e difundido entre as
academias de capoeira. Será?
Vamos
então dar uma volta no passado.
Na
Bahia, muito antes da Regional, existia já uma variação de toques vindos da
capoeira Angola e um deles era o toque de São Bento Grande de Angola. Onde os
Angoleiros jogavam um jogo mais em pé, com alguns movimentos mais altos
misturados com floreios, onde os termos “jogo de dentro” ou “jogo de fora’
determinavam se era mais combativo ou mais floreado.
Com o
tempo surgiu Mestre Bimba. Exímio angoleiro, tinha o desejo de colocar a nossa
Capoeira à altura de outras artes marciais que estavam chegando de fora como o
Karate, Kung-fu, Jiu jitsu e o Judò. E para isso Mestre Bimba incluiu golpes de
algumas artes marciais reinventando praticamente a Capoeira. Também reformulou
a bateria de instrumentos que contava com apenas um berimbau e dois pandeiros.
As palmas todo mundo sabe que a palma de Bimba é um, dois, três. O atabaque foi
retirado porque dizia que as pessoas associavam o instrumento com o candomblé.
E enfrentar tal preconceito numa época em que a capoeira ainda era proibida e
considerada coisa de negro ou de vagabundo não seria uma boa idéia. Além disso,
Bimba também inventou sete novos toques de berimbau, onde São Bento Grande da
Regional seria o principal. Os outros eram toques para ocasiões especiais ou
para mudar o ritmo do jogo.
Agora,
se dermos uma volta pelas academias afora e perguntarmos qual estilo de
capoeira é ensinado, a maioria esmagadora responderia Regional e umas muito
raras, Angola. Portanto Angola e Regional seriam os dois estilos de Capoeira
praticados. O que nos leva a concluir que se você não é angoleiro, você é
regional e vice-versa.
Baseado
nos fundamentos da capoeira, que diz que cada toque do berimbau corresponde a
um tipo de jogo, vejamos então as academias de capoeira que dizem ensinar o
estilo Regional.
Começamos
pela bateria de instrumentos: três berimbaus, um ou dois pandeiros, um
atabaque, um agogô e um reco-reco. Formação típica de capoeira Angola. O toque
mais executado nessas academias é aquele que até quem não pratica sabe pelo
menos imitar o som com a boca. É aquele ti-ti-dim-dom-dom. E aquele toque se
trata nada mais nada menos do que o toque de São Bento Grande de Angola.
Durante a roda soltam saltos mortais, aus sem as mãos, macaquinhos, e muitos
outros movimentos acrobáticos, revezando esses movimentos com golpes de ataque
e defesa, o que caracteriza o jogo de São Bento Grande de Angola.
Interessante?
Então veja mais.
Existem
algumas poucas academias que tocam o toque de São Bento Grande da Regional, criado por Mestre Bimba, mas o
fato é que quando estão na roda, jogam o mesmo jogo de São Bento Grande de
Angola.
São Bento
Grande da Regional
Durante
esse toque, não existem floreios, acrobacias, ou quaisquer movimentos que não
sejam de ataque e defesa, salvo a ginga e o aú. Isso mesmo. Para se jogar
capoeira Regional sob o toque de São Bento Grande da Regional, não se pode dar
mortal, gato, macaquinho e nenhum outro movimento que descaracterize o seu
aspecto de luta. A capoeira Regional é uma luta, muito combativa, com
movimentos eficientes de ataque e defesa. Comprovada pelo próprio mestre, quando
se pôs a enfrentar vários campeões de outras artes marciais derrotando todos
eles.
Finalmente
podemos concluir que:
A
maioria das academias de Capoeira dizem jogar Regional, mas estão jogando São Bento Grande de Angola e isso é um fato que não pode
passar despercebido.
Não estou
querendo criticar nenhuma academia, mestre ou professor, mas vale a pena
lembrar que esses profissionais devem olhar mais para os fundamentos da
Capoeira e repassar isso para os seus alunos, para que esses valores não sejam
perdidos com o passar do tempo. Também não gosto dessa duplicidade de Angola ou
Regional. Capoeira é capoeira, e o que determina o que se vai jogar é o
berimbau. Então dancemos conforme a música.
Axé a
todos.
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