Adilson Alves da Silva
21 de mar de 2014
Mais histórias sobre Mestre Bimba
( Manoel dos Reis Machado)
No começo de setenta
Em Goiânia capital
Mestre Oswaldo me revela
Um segredo sem igual
"To trazendo mestre Bimba
De Salvador na Bahia
Pra viver aqui em Goiânia
Numa grande parceria"
"E vai vir com a família
Deixando tudo pra trás
Magoado,descuidado
Dizendo não voltar mais"
"Ele sempre me dizia
Sobre essa decisão
De só voltar pra Bahia
Se for dentro de um caixão"
E lá se estabeleceu
Com um "Não sei quantos,mais"
Trazidos de Salvador
Para morar em Goiás
Começando vida nova
Aula aqui shows a caminho
Encontrei-o algumas vezes
Dando aulas no Joquinho(Jóquey club de Goiânia)
Para ensinar a ginga
Segurava pelas mãos
Puxando num vai-e-vem
Buscando a coordenação
Num dia desses de treino
Passei lá pra lhe mostrar
A carta de motorista
Que acabara de tirar
Ele olhou minha carteira
Me fitando no momento
Me dizendo "parabéns
Por mais esse documento"
Num show lá na pecuária
Antes teve um almoço
Perguntaram: "Quantos são?"
"Todos pra cá desse moço"
E esse moço era eu
Quanta honra e apreço
Ao me puxar respondia:
" Depois dele eu nem conheço"
Ao ver o seu neto com frio
Naquela noite ao sereno
Cobri com o meu casaco
O corpo daquele pequeno
E depois aqui em Brasília
No Cruzeiro fui chamado(Bairro de Brasília)
Pra entregarem o casaco
Que eu havia emprestado
Nessa volta a Brasília
Soube que ele perguntou
Por um aluno que eu tive
Cujo jogo ele gostou
Leonídes " Diabo-louro"
Branco-azedo, incolor
Deixou o mestre encantado
Com seu jogo de valor
Ao Oswaldo perguntava
" Me responda, seja franco,
Como vai aquele moço,
Que dá aula no URSO BRANCO?"(Elefante-Branco.)
Quantas vezes não me lembro,
Fui com o Oswaldo na casa
Deixar compras de mercado
Suprimentos não faltava
O carro ia pesado
Mal nos cabia o Opala(Preto)
Comida e muito mais
Na frente e no porta-malas
E o Oswaldo sempre atento
Cuidadoso e dedicado
Não deixava faltar nada
Sempre estava do seu lado
Depois perdi o contato
E fui estudar medicina
Fevereiro sete quatro
Soube de sua triste sina
O mestre morreu dia cinco
Em Goiânia capital
Chorou toda a capoeira
Fez-se mudo o berimbau
Antes disso ele desfez
Com o Oswaldo a sociedade
Preferiu tocar sozinho
Seu trabalho na cidade.
Foi dar ouvido "aos porcos"
Que hoje carregam seu nome
Chegou a dormir ao relento
Passou frio, passou fome.
Disseram-lhe ao pé do ouvido
Que o Oswaldo lhe roubava
Mas sociedade é metade
De tudo que faturavam
Não vi mais o mestre Oswaldo(Mesmo morando tão perto)
Desde antes de sua morte
Meu relato é apartidário
Fidedigno e sem cortes.
Acervo do Mestre Chuvisco
05 de abril de 2019.
Nenhum comentário:
Postar um comentário